A implantação da Psiquiatria Infantil no Brasil

“Parece-me que essa difusão do poder psiquiátrico realizou-se a partir da infância, isto é, a partir da psiquiatrização da infância. Claro, vocês podem encontrar esboços, formas, dessa generalização a partir de certo numero de personagens que não são o personagem da criança – podemos encontrá-los, por exemplo, a propósito do criminoso, e isso já bem cedo, desde a elaboração tanto das perícias psiquiátrico-legais como da noção de monomania – mas, enfim, parece-me que em todo o século XIX foi principalmente a criança o suporte da difusão do poder psiquiátrico; foi muito mais a criança que o adulto.” (Foucault, 2006 p.255)

Em seu livro “O poder psiquiátrico” Michel Foucault considera que a psiquiatrização da criança começou no século XIX. Ao contrario do que possamos pensar não começou com a criança louca, ou tendo a infância como a precursora da loucura. Mas sim com o que Foucault cita como sendo a “crianças não louca”, ou seja, com a criança considerada imbecil e idiota.

“Eu diria então – é essa hipótese que quero considerar – que a psiquiatrização da criança, por mais paradoxal que seja, não passou pela criança louca ou pela loucura da infância, pela relação constitutiva entre a loucura e a infância. Parece-me que a psiquiatrização da criança passou por outro personagem: a criança imbecil, a criança idiota, a que logo será chamada de criança retardada, isso é, uma criança que se tomou o cuidado […*], desde o inicio, desde os trinta primeiros anos do século XIX, de especificar bem que não era louca. Foi por intermédio da criança não-louca que se fez a psiquiatrização da criança e, a partir daí, que se produziu essa generalização do poder psiquiátrico.” (Foucault, 2006 p.257)

Em “Psiquiatria Infantil Brasileira”, Francisco Assumpção Jr. retoma o momento histórico em que uma “Psiquiatria da Infância” começa a ser construída, ressaltando, como era importante para os atores dessa construção a categorização de sintomatologias e registro de terapêuticas adotadas em cada caso; padronizando e rotulando certos sujeitos considerados anormais. Durante esse período são encontrados, por exemplo, trabalho cujos títulos eram: ”Da chamada forma mental da criança e do adolescente”; “Contribuição para o estudo das Encefalopatias Infantis”; “Assistência aos menores anormais. Subsídios para seu estudo”; “Alguns aspectos endócrinos verificados em Ologofrênicos”. Além de obras que tratam sobre crianças ditas Ologofrênicas, Epilépticas e Delinqüentes. Pôde-se perceber que a partir da década de 40 a Psiquiatria Infantil no Brasil, surgia com um olhar ainda vinculado a Pediatria e Neurologia, carregando com isso, questões muito ligadas à medicalização e ao olhar biologizante que a medicina atribuía ao sujeito. Ao que parece, o enquadramento e a busca por estereótipos que pudessem classificar e agrupar indivíduos que apresentassem entre si as mesmas características (vide sintomas) foi uma prática que pode ser datada de um mesmo momento histórico ao surgimento dos asilos, hospitais e prisões, com o intuito único de excluir e segregar os considerados indesejáveis. Ainda hoje podemos perceber como essa movimentação continua presente em nossa sociedade, principalmente no ambiente escolar. É cada vez mais freqüente o encaminhamento feito pelas escolas a consultórios médicos ou psicológicos de crianças consideradas “problema”. Agora, muitas vezes rotuladas com novas terminologias, tal como autistas, hiperativas ou ainda com déficit de atenção(TDAH). Os motivos para tal prática continuam sendo os mesmos: a diminuição ou retardo na velocidade do desenvolvimento, assim como ao que chamam de “indisciplinaridade”, ou seja, o não ajustamento a uma ordem estabelecida como comum a todo e qualquer indivíduo. Fenômenos infantis, muitas vezes, são vistos como sintomas de patologias tais como a imaginação, a curiosidade, a fantasia ou a enorme energia para correr e brincar. Podemos então refletir que esse visão de uma historia passada ainda tem embasamento para fundamentar o que são as características infantis. Hoje acredita-se na particularidade infantil. As criança podem correr, brincar, imaginar e perguntar, desde que não em demasiado. A sociedade parecer não suportar esse “a mais” que algumas crianças demonstram e acabam rotulando essa características como fora dos padrões e anormal.

Referências Bibliográficas:

Krysnki, S. – Há meio século cuidando da próxima geração. Entrevista em Psicodrama, 4(3):5-8,1993

FOUCAULT, M. “O poder psiquiátrico: curso dado no Collège de France (1973-1974)” – São Paulo: Martins Fontes, 2006.

ASSUMPÇÃO JR., F. B. Psiquiatria infantil brasileira: Um esboço histórico. São Paulo: Lemos, 1995. Postado por: Glícia Pandolfi, Lívia Dias e Priscilla Teixeira

Postado por: Glícia Pandolfi, Lívia Dias  e Priscilla Teixeira

Uma resposta para “A implantação da Psiquiatria Infantil no Brasil

  1. Gostaria de uma avaliacao no comportamento de minha filha de 9 anos, já renho o caso de minha mae que bipolar.
    sem mais att andreia

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